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Por Roberto Lameirinhas, Valor — São Paulo

Os países da América Latina estão entre os mais atrasados na recuperação econômica pós-pandemia de covid-19 e a perspectiva para 2022 é desafiadora. Analistas veem a consolidação de um quadro de estagflação, de baixo crescimento e inflação alta, com consequente aumento da pobreza e da fome — dois fatores que irão manter a insatisfação social elevada.

“A América Latina já era a região mais desigual do mundo e o quadro social piorou em 2020 e 2021”, explica Alberto Ramos, economista e diretor de macroeconomia do Goldman Sachs para a América Latina. “Agora, velhos inimigos como crescimento baixo e alta inflação estão encenando um retorno, com o lento progresso socioeconômico aumentando o risco de cicatrizes sociais e políticas perturbadoras.”

Considerando as sete maiores economias da região — Brasil, México, Argentina, Chile, Colômbia, Peru e Equador —, Ramos prevê um crescimento médio de 6,6% em 2021 (com a região recuperando a perda provocada pela pandemia em 2020) e de 2% em 2022. A inflação deve ficar em 8,3%, baixando moderadamente para 4,5% em 2022, até chegar aos 3,4%, em 2023 (essas estimativas excluem a Argentina, com uma inflação de mais de 50% ao ano, e o Equador, que tem uma economia dolarizada).

Incertezas relacionados à retomada do crescimento mundial pós-covid, expectativas de preços elevados de energia e tensões políticas contribuem para o quadro de estagnação econômica.

“Acreditamos que um crescimento mais modesto do setor industrial da China afetará países exportadores de commodities, principalmente as minerais”, diz William Jackson, economista da consultoria Capital Economics. “Ao mesmo tempo, os gargalos na cadeia global de suprimentos devem persistir por mais tempo, alimentando inflação — e a consequente alta de juros, que desacelera o crescimento nos países emergentes.”

Ante o cenário difícil, a pobreza extrema continuará a crescer na América Latina e Caribe — tendência que vem desde 2015 e que ganhou força com o aumento do desemprego e subemprego urbano em meio à pandemia — e não se reverterá em curto prazo, segundo o Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU. “O número de 59,7 milhões de pessoas com fome e de 267 milhoes em situação de insegurança alimentar na região é o maior em 20 anos”, disse Raphael Leão, do Escritório Regional para América Latina e Caribe do PMA.

Um relatório da ONU divulgado no fim de novembro mostra que, só na América do Sul entre 2014 e 2020, aumentou em quase 100 milhões o número de pessoas que passaram pelo menos um dia sem comer por razões econômicas.

Em meio a tensão social com a piora das condições de vida, Brasil (em outubro) e Colômbia (em maio) enfrentarão eleições presidenciais, enquanto o Chile terá um novo governo de esquerda e a conclusão do processo de revisão da constituição — que deve ser levado a plebiscito no segundo semestre. Os processos eleitorais podem atrasar reformas e levar governos a gastar mais, agravando o desequilíbrio fiscal já piorado pelo aumento de gastos durante a pandemia de covid-19.

“Acreditamos que os governos da região terão dificuldade em retirar os estímulos fiscais [da pandemia]”, diz Marcos Casarin, analista da consultoria Oxford Economics para América Latina. “No Chile, por exemplo, poderá haver grandes dificuldade fiscais em 2022 capazes de prejudicar a recuperação ou a popularidade de seu novo presidente [o socialista Gabriel Boric] — ou ambos.”

Já a Argentina deve permanecer em 2022 com a inflação na faixa dos 50%, impulsionada pelo déficit fiscal, controle cambial e tarifas públicas cada vez mais ineficazes e insustentáveis. A diferença de mais de 100% entre a cotação do dólar oficial e a do paralelo deve levar a uma desvalorização do peso ainda no primeiro semestre do ano. Os desequilíbrios econômicos devem causar a desaceleração do crescimento para 2,9% em 2022.

Demanda por petróleo e gás, como efeito de uma possível aceleração da retomada global, pode favorecer Bolívia e Equador — embora no segundo o governo enfrente oposição das comunidades locais a novos projetos de exploração.

Ao mesmo tempo, especialistas temem o flerte de alguns governos da região com medidas antimercado, como o risco da nacionalização do gás no Peru, a decisão do México de reduzir suas exportações de petróleo a partir de 2022, a resistência argentina às demandas do FMI para renegociar sua dívida e a ameaça de nacionalizações por um eventual governo do esquerdista Gustavo Petro, que lidera pesquisas eleitorais na Colômbia.

“O problema da América Latina é sua tendência à necrofilia política, que impede a região de abandonar modelos econômicos já sepultados”, afirma o economista e catedrático do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), o venezuelano Moisés Naim. “Sempre voltamos ao ponto das medidas que parecem mais fáceis, mas que são cadáveres políticos e nos fazem retroceder.”

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